A Rainha do Quariterê
Romance sobre Tereza de Benguela e outras bruxas do Quariterê, de Alexandre Azevedo, é lançado pela Entrelinhas Editora
O livro, publicado ao final de 2021, só está sendo lançado agora em razão das restrições impostas pela pandemia. Com 176 páginas, o autor nos desafia para a leitura de um romance escrito em apenas um parágrafo… Semelhança de personagem que vira onça e outra que vira sucuri (com a novela Pantanal), ao entrar nas águas do Guaporé, são estranha coincidência.
O evento será presencial com transmissão online pelas redes sociais do Sesc-MT (Facebook e Youtube). Participarão da transmissão o autor Alexandre Azevedo e Flávia Santos, professora, bibliotecária, do perfil Corrida Literária; presencialmente estarão Paty Wolff, ilustradora da obra que publicou dois livros pela Entrelinhas (Como pássaros no céu de Aruanda e Thehcitura) e Amélia Alves, doutora em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, em Portugal, pesquisadora da Diáspora Africana, escravidão e identidades africanas em Mato Grosso, autora na área da História e também de ficção.
O romance A rainha do Quariterê é narrado em primeira pessoa por um escravo que foge para viver no Quilombo do Piolho, no século XVIII. Ele é o responsável por contar a história de José Piolho e principalmente de Tereza de Benguela e o sistema de vida dentro do quilombo. O romance valoriza principalmente as mulheres do quilombo, vistas pelo narrador-personagem como mulheres fortes e determinadas, ao ponto de considerá-las “bruxas” pelos dons e certos “feitiços” que fazem. Tereza é a rainha, admirada por todos, não só pelos que vivem no quilombo, mas também pelos moradores das redondezas. Ela é considerada a única e legítima rainha em terras brasileiras (nem mesmo Carlota Joaquina fora rainha), numa crítica ao nome dado à comunidade após a dizimação do quilombo, Aldeia Carlota. “Às vezes pergunto só por perguntar. O sinhô responde se quiser. Se achar que deve. O branco tem todo direito de ter rainha. Mas rainha de preto foi Tereza. A rainha Tereza. Rainha de branco foi Carlota. Mas não foi minha rainha,” diz o narrador-personagem em trecho do livro.
Mulheres como Ondina, Corina, Vilu, Januária, Margarida, Gertrudes, Guacira, e além do narrador, homens como Quincas, Domingos e Andira, compõem este romance escrito em um só paragrafo.
O romance mostra também os ataques ao quilombo, o seu poder de defesa, a dor dos escravos nas minas de Mato Grosso, e os ais de dores escutados na praça de Vila Bela da Santíssima Trindade dos escravos castigados após as invasões ao quilombo.
SOBRE OS PERSONAGENS
Alexandre Azevedo nos conta sobre outros personagens do seu livro de ficção inspirado em relatos históricos sobre Tereza de Benguela em Vila Bela da Santíssima Trindade.
“Outras mulheres como Ondina, responsável em fabricar as belas roupas que Tereza usava, principalmente, nas festas e comemorações no quilombo. Ondina tinha um “caldeirão” em sua casa onde enfeitiçava as cores! Corina era a mais velha delas, sábia e conselheira. Tereza de Benguela tratava-a com uma mãe. Sabia tirar o banzo, além de exímia contadora de histórias. Também havia a Vilu, companheira do narrador, e amiga e confidente de Tereza de Benguela. Era a única que sabia tudo sobre Tereza. Diziam que depois, havia virado sucuri e vivia pelas águas do Guaporé (“Vilu embrenhou. Entrou dentro do mato grosso. Isso é verdade. Enlouqueceu depois que ficou sabendo da morte de Tereza. Vive no meio desse mato grosso. É gente quando sai do Guaporé. É sucuri quando entra dentro dele. Vira sucuri. Depois desvira pra virar mulher de novo. Isso eu sei que é verdade. Porque eu vi. Com esses meus olhos que a terra ainda há de comer.”).
Outra que era considerada bruxa, chamava-se Januária, que chegara ao quilombo com uma máscara de flandres no rosto, como castigo por se recusar a dormir com o seu dono (“Januária riu mais ainda. Estava livre no Quariterê. Podia sorrir. Antes de mais nada. Apenas sorriu o seu riso de liberdade”.). Havia outra também, a velha Margarida, que sabia ver o futuro (“A velha Margarida disse. Que um dia o mundo todo ia usar a sua máscara de flandres. O mundo inteiro ia ser impedido de sorrir. O sinhô acredita? O Quariterê deu pra ela esse poder. De ver o que ninguém enxerga. Coisas do ainda longe. Distantes que vão acontecer um dia”.).
Outra bruxa do Quariterê era Gertrudes, a rainha dos doces, doce também era o seu jeito de ser (“Mas quando entrava dentro da cozinha pra fazer os seus bolos. Pra fazer os seus doces. A mulher se transformava. Virava bicho. Que nem onça pintada. Virava fera. Diziam. Falavam que Gertrudes virava onça de verdade. Que durante a noite ela virava onça e saía pra fora do Quariterê. Ia pro mato. Pro mato grosso. Muita gente do Quariterê já tinha visto.”).
Havia também Guacira, a índia guerreira (“Guacira atirava com arco e flecha melhor que os outros índios. Tinha aprendido com o seu pai. Saía pra mata com ele. Iam caçar os dois. Os dois iam pescar. O pai ensinou a usar o arco e flecha. A lança também. Guacira queria ser guerreira. Que nem o índio homem era. Já não era? Só índio era guerreiro. Podia uma mulher? Guacira também queria ser”.).
Além do narrador, os homens que viveram no Piolho e auxiliavam as mulheres, como Quincas, o compositor (José Piolho. Foi traído por um covarde. Mas seu nome ninguém esquece que é o mesmo que liberdade!), Domingos, Andira (que era o velho índio tão sábio quanto dona Corina).
SOBRE O AUTOR:
Alexandre Azevedo (1965) nasceu em Belo Horizonte (1965), passou a infância em Cuiabá e São Paulo e a adolescência em Campo Grande (MS). Reside em Ribeirão Preto, interior paulista, há mais de 30 anos. Formado em Filosofia, com pós-graduação em língua portuguesa e estudos literários, é professor de literatura brasileira e portuguesa há 35 anos. Romancista, novelista, contista, cronista, ensaísta, teatrólogo e poeta, além de dedicar-se à literatura infantojuvenil, é autor de mais de 150 obras, publicadas por diversas editoras do país. Algumas de suas obras foram prefaciadas e comentadas por autores como Luís Fernando Veríssimo, Ziraldo, Lourenço Diaféria, Manoel de Barros e Affonso Romano de Sant’Anna. Além do romance “A rainha do Quariterê”, publicou pela Entrelinhas os infantis Pantanimais e Pantanimais para colorir, com ilustrações de Léo Davi.
SERVIÇO
O que:
Lançamento do romance “A rainha do Quariterê: A história de Tereza de Benguela e das outras bruxas do Quilombo do Piolho”, 176 páginas, 16 x 23 cm, encadernação tipo brochura.
Quando e onde:
Dia 15 de junho de 2022, no Cinema do Sesc Arsenal (e nas redes sociais do
Sesc-MT – Youtube e Facebook), em Cuiabá, as 19 horas.
Valor do investimento, no lançamento: R$ 60,00 (preço de capa R$ 68,90)
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Crédito da foto de Alexandre Azevedo, para divulgação: Clarissa Azevedo (2021)