Do salto do jaguar ao voo do condor
No próximo dia 22 de novembro, o Gabinete Antes do Café recebe os convidados para o lançamento do livro do indigenista José Eduardo F. M. da Costa. “Caminhos do El Dorado: Roncador-Andes”.
O professor Júlio Resende Duarte, doutor em Educação pela UFMT e Universidade de La Coruña, na Espanha, e professor do IFMT no Campus Cuiabá, apresenta o livro: “Conhecer o autor e sua obra revelaram-se como um presente para este leitor ávido pelo descortinar de uma rota tão mágica quanto palpável. Ver surgir nestas linhas a possibilidade da existência dos Caminhos do El’Dorado foi tão impactante quanto descobrir os rios voadores que, pelos céus, levam água da Amazônia ao sudeste brasileiro. É emocionante descobrir, por meio de histórias sobre a cultura, a mitologia e a paisagem, a conexão imaterial e material entre nações indígenas desde o centro da América do Sul aos Andes.”
E continua: “Ao percorrer o continente americano, fica evidente o movimento que os colonizadores fizeram de forma brutal para destruir a cultura, a arquitetura, os símbolos, as manifestações espirituais e o legado dos povos americanos. Para justificar a conquista do território e subjugação das pessoas, foi necessário sustentar uma ideia de que na América não havia uma paisagem humana de extrema beleza e sabedoria. Contudo, é impossível eliminar por completo as culturas. Mesmo que todas as construções materiais pudessem ser derrubadas, ainda assim as ideias permaneceriam nas pessoas, sendo passadas de geração em geração. Ao caminhar pelas ruas de Cusco, torna-se evidente que a tentativa de destruição do legado cultural americano por parte dos colonizadores foi parcialmente frustrada. Lá, as igrejas foram visivelmente erguidas sobre fundações de construções Incas, que se apresentam incrivelmente avançadas em termos arquitetônicos. Da mesma forma, em toda a América, resiste toda sorte de evidências, mas nem sempre tão explícitas como esta.
Nesta obra, José Eduardo procura demonstrar que em todo esse amplo território, desde a Serra do Roncador, passando pelos chapadões de Poxoréu e Chapadas dos Guimarães, pelos rios de Cuiabá e alagados do Pantanal, pelas serras na divisa entre Brasil e Bolívia, pelos rios em território boliviano, até as terras celestiais de Samaypata no sopé dos Andes, existem e resistem fundações materiais e imateriais de culturas espetaculares de diferentes nações indígenas. É assim que o leitor-caminhante pode perceber as profundas conexões entre esses povos, bem como entre o planalto brasileiro, a planície pantaneira e as montanhas andinas.
Por fim, esta obra lança a semente do sonho de criação de uma rota turística e cultural para que essas evidências possam ser vivenciadas por todos aqueles que se sentirem atraídos pela ancestralidade da América e de seus povos. Todas as riquezas paisagísticas e culturais tão bem relatadas nestas páginas poderão proporcionar o salto do jaguar e alçar o voo do condor na medida em que promoverão o movimento do viajor pelos Caminhos do El’Dorado.” O professor Júlio publicou, pela Entrelinhas, “O que as travessias ensinam: aprendizados existenciais dos caminhantes”, em 2022. Sua área de especialidade é Gestão Pública do Turismo, Gestão de Empresas Turísticas, Sustentabilidade, Educação e Turismo e Educação Ambiental.
Júlio Resende Duarte[1]
A cineasta Glória Albues, que também escreveu uma breve apresentação na edição, pergunta:
“Você já ouviu falar de corredores culturais? Provavelmente, sim. Mas não sei se já percorreu um igual ou mesmo parecido com esta trajetória turístico-espiritual proposta pelo indigenista José Eduardo F. M. da Costa, que parte da Serra do Roncador, em Mato Grosso e vai até à Cordilheira dos Andes.
Os Caminhos do El’Dorado são trilhados entre camadas diversas de memórias superpostas que ampliam e desvelam a produção de sentidos na dimensão do espaço e no tempo, criando interconexões, abolindo dicotomias entre natureza e cultura, real e imaginário, sempre a partir de uma perspectiva das cosmovisões ameríndias.
Caminha-se ao mesmo tempo por fora e dentro de nós à medida que ao deixar-se levar pelo fluxo cósmico da ancestralidade, o viajante leitor cruza várias rotas que permitem o acesso ao onírico, ao sagrado, ao transcendental, ao passado e ao futuro – eterno presente – da vivência humana nessas paisagens visuais e sonoras do coração sul-americano.
Caminhos do El’Dorado é uma travessia sensorial e mágica que leva o leitor à fruição de uma geografia misteriosa e bela, desenhada entre o céu e a terra.
Surpreendente leitura. Inesquecível viagem.”
O autor, sobre si mesmo
“Venho do Sertão da Pedra Alva e da Serra da Onça. Criado na Pedra do Arpoador, no todo azul do mar, e foi assim… que encontrei a Montanha da Pedra Preta. Carioca e indigenista, em 1979, migrei para o Reino do Povo das Cinzas, onde morei entre os Nambiquaras por cerca de nove anos. Depois convivi com os Potiguaras, na Baía da Traição. Em Mato Grosso, nessas mais de quatro décadas de vivências, pude conhecer outras etnias e Anna, companheira de travessia. Com formação acadêmica em Geografia e Antropologia, mas foi nas andanças que apreendi a miração do multiverso, a perceber a sincronicidade dos sinais e dos em-cantados, dos diferentes seres e suas reinações. Ao andar com a ancestralidade, como jaguar índigo que somos, no limiar de luz e sombra, em sons-cores e sonhos, é possível perceber a criação como a fruição humanizadora dos adversos aparentes pelos caminhos de transmutação. Evolo como o poeta Andaleço, errante fazedor de amanhecer, o peregrino fontana de andarilhos
Serviço:
Lançamento do livro:
“Caminhos do El Dorado: Roncador-Andes”, de José Eduardo Fernandes Moreira da Costa, publicado pela Entrelinhas Editora. 240 páginas, papel pólen,
formato 13 x 21 cm
Local: Gabinete antes do café
Data: 22 de novembro (quarta-feira), a partir das 19h30
Valor do investimento, no lançamento: R$ 70
[1] Doutor em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso, UFMT e Universidad de la Coruña (Espanha, 2019). Mestre em Turismo e Meio Ambiente pela UNA (2008) e graduado em Turismo pela PUC-MG (2005). Professor do IFMT, Campus Cuiabá. Áreas de especialidade: Gestão Pública do Turismo, Gestão de Empresas Turísticas, Sustentabilidade, Educação e Turismo, Educação Ambiental. Autor do livro “O que as travessias ensinam: aprendizados existenciais do caminhantes” (Entrelinhas, 2022).